Historia do Ceará
- tornadoimagens
- 1 de nov. de 2015
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Os fatos históricos sobre o território cearense começaram a ser registrados na História Moderna a partir do século XVI. Os primeiros documentos descreviam essa região do Brasil já habitada por diversas etnias indígenas, que viviam da extração de recursos naturais,pesca, agricultura e comércio com povos
europeus. A formação histórica do atual Ceará é resultado de diversos fatores sociais, econômicos e de adaptação à natureza, tais como a interação entre os povos nativos, os europeus e os africanos e a desses povos com o fenômeno da seca.
O desenvolvimento independente do Ceará aconteceu depois de sua desagregação de Pernambuco, em 1799, e sua história foi marcada por lutas políticas e movimentos armados. Essa instabilidade prolongou-se pelos períodos do Império e da Primeira República, normalizando-se depois da reconstitucionalização do Brasil, em 1945.
Ceará pré-colonial
O Ceará era habitado ancestralmente por povos indígenas dos troncos Tupi (Tabajara, Potyguara, Tapeba, entre outros) e Jê (Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé, Karatius, entre outros), cujas tribos ainda hoje denominam vários topônimos no estado. Estes povos negociavam produtos como tatajuba, âmbar e algodão bravo com os estrangeiros que aportavam nas costas cearenses antes da chegada dos exploradores do Império Português, em 1603, por meio do litoral. Os portugueses tentaram, a partir de 1603, estabelecer-se nas terras cearenses, mas, em decorrência da intensa resistência dos nativos e da falta de conhecimento sobre como sobreviver às secas, não obtiveram sucesso. A partir de 1654, com a saída dos holandeses, que dominaram a região em dois períodos históricos, e o enfraquecimento político dos povos indígenas locais, a colonização portuguesa começou a obter sucesso nesse território. Os esforços de povoamento objetivavam principalmente a vitória diante da resistência indígena e a garantia do domínio regional luso contra estrangeiros.
Os navegadores espanhóis Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe desembarcaram na costa cearense antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Pinzón chegou a um cabo identificado como Porto Formoso, que se acredita ser o Mucuripe, e Lepe, à barra do rio Ceará, em Fortaleza. A chegada de Pinzón ao Ceará é debatida e largamente defendida entre as possibilidades do controverso descobrimento pré-cabralino do Brasil. Essas descobertas, contudo, não puderam ser oficializadas em decorrência do Tratado de Tordesilhas, de 1494.
As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas a Antônio Cardoso de Barros na segunda metade do século XVI, porém, ele não se interessou em colonizá-las. Osfranceses, que já negociavam âmbar-gris, as tatajubas, a pimenta e o algodão nativo com os povos indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará. Em 1590, eles fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos cearenses, a exemplo do capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe em 1600.
Entre 1597 e 1598, um ramo da etnia Potyguara que habitava a região ao redor do Forte dos Reis Magos, migrou e fixou-se na região entre as margens do rio Cocó e rio Cearáe nos sopés ao norte das serras de Pacatuba e Maranguape.
Ceará Colonial
Exemplares de artefatos de povos indígenas típicos do Ceará, em gravura da Comissão Científica de Exploração.
Graças ao contatos mantidos entre os índios Potyguara e portugueses, estes últimos planejaram chegar ao Ceará e estabelecer um ponto de apoio na jornada para os Maranhão. Desta forma, a primeira tentativa efetiva de colonização portuguesa ocorreu com Pero Coelho de Sousa em 1603, que fundou o Forte de São Tiago na Barra do Ceará. Em 1605, porém, sobreveio a primeira seca registrada na história cearense, fazendo com que Pero Coelho e sua família abandonassem o Ceará.
Depois da partida de Pero Coelho, os padres jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira chegaram ao Ceará com o intuito de evangelizar ossilvícolas. Avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto. O padre Luís Figueira retornou aPernambuco em 1608, sem grandes sucessos.
Em 1612, nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de conquista do Maranhão, então dominado pelos franceses. Fez parte desta jornada Martim Soares Moreno, que fundou o Fortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao retornar, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da exploração econômica pelos portugueses e a convivência com os nativos.
Os holandeses, já estabelecidos em Pernambuco desde 1630, tentaram invadir o Ceará em 1631, atendendo ao pedido das nações indígenas cearenses. A primeira tentativa de conquista holandesa, entretanto, fracassou. Em 1637, o território foi tomado pelosholandeses, graças um trabalho conjunto com os índios nativos, no qual os portugueses foram feitos prisioneiros e levados para Recife. Os holandeses estabeleceram-se e também chegaram usar o Ceará com ponto de apoio à conquista holandesa do Maranhão, em 1641. Nessa época de ocupação holandesa, entre 1637 e 1644, o forte da Barra do Ceará foi reformado, foi construído outro em Camocim, as pesquisas para a exploração das salinas foram feitas e, em 1639, George Marcgraf veio ao Ceará para uma expedição que se deu partindo do Fortim de São Sebastião e percorreu o oeste cearense até a região dos Inhamuns. Os holandeses permaneceram no Ceará até 1644, quando Gedeon Morris e sua tropa, que retornavam das batalhas no Maranhão, foram mortos numa emboscada organizada pelos próprios índios. Com a emboscada de 1644, o Fortim de São Sebastião também foi destruído.
De 1644 até 1649, o Ceará foi administrado pelas etnias então existentes. A presença europeia só recomeçou ao fim desse período, depois de contatos e negociações feitas entres os nativos e Antônio Paraupaba em 1648.
Com a chegada de Matias Beck, em 1649, o Siará Grande entrou num novo período histórico: na embocadura do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das supostas minas de prata foram iniciados e os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região em parceria com os indígenas.
Após a capitulação holandesa em Pernambuco, o forte foi entregue aos portugueses, que o rebatizaram de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, restabelecendo-se, assim, o poderio português no território. Neste período, muitas das nações indígenas que apoiaram os holandeses, que não estavam protegidas pelo Tratado de Taborda, fugiram para o resto do Ceará, procurando refúgio das retaliações lusas. Desta forma, o Ceará acabou sendo o centro de batalhas da Guerra dos Bárbaros.
Na continuação da colonização pelos portugueses, a influência dos jesuítas foi determinante, resultando na criação de aldeamentos, como os de Porangaba, Paupina, Viçosa e outros, muitos deles fortemente militarizados, nos quais os indígenas eram concentrados para serem catequizados e assimilarem a cultura lusitana. Tribos tupis aliadas dos portugueses também se instalaram em vilas militarizadas na capitania. Dessas reduções, surgiram às primeiras cidades da capitania, como Aquiraz e Crato. O processo deaculturação, no entanto, não se deu sem grandes influências de crenças e costumes nativos. A intensa resistência levou a episódios sangrentos, destacando-se a Guerra dos Bárbaros, que se deu ao longo de várias décadas do século XVIII e que resultou na fuga dos habitantes da então capital, Aquiraz, em 1726, para Fortaleza, para a qual foi transferido tal título.
Primeiro mapa de Fortaleza, de 1730.
Outras frentes colonizadoras surgiram com a instalação da pecuária na capitania através dos sertões de dentro e sertões de fora, com levas oriundas respectivamente da Bahia e de Pernambuco. Vilas como Icó, Aracati, Sobral e outras surgiram do encontro de rotas do gado tangerino, que era levado até as feiras e fregueses. Mais tarde, o custoso transporte do gado perdeu importância para a produção da carne de charque, que, no final do século XVIII, disseminou-se também para a Região Sul do Brasil. Nas regiões serranas, houve grande afluxo de pessoas que se dedicaram à agricultura policultora, o que veio a caracterizar tais regiões pela maior diversificação da produção e pela estrutura menos latifundiária que a do sertão. O vale do Cariri assentou-se menos na pecuária e mais na cultura dacana-de-açúcar, propiciando a entrada de maiores levas de escravos africanos. O litoral, refúgio de muitos indígenas e negros livres ou fugitivos, povoou-se de vários vilarejos de pescadores.
As principais vilas da capitania da época charqueana eram Aracati, Crato, Icó e Sobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio de couro e carne de charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu, mas, com uma grande seca na região entre os anos de 1790 e 1793, os rebanhos bovinos morreram e a produção de charque transferiu-se para o Rio Grande do Sul, que então assumiu a posição de abastecedor principal das outras regiões.
Capitania do Siará Grande
Mapa do Ceará no início do século XIX.
Em 1799, o Ceará adquiriu independência em relação a Pernambuco. Bernardo Manuel de Vasconcelos foi, então, nomeado primeiro governador do estado, responsável pelo início da urbanização de Fortaleza. No final do século XVIII, especialmente com a Guerra de Independência Norte-americana, o algodão foi tomando relevante papel na pauta de exportações do Ceará. Com o declínio do charque, cuja distribuição era centrada em Aracati, Fortaleza se tornou a principal cidade cearense por ser o destino dos produtos agrícolas cultivados nas diversas serras que se elevam nas vizinhanças do município.
Em 1812, foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à urbanização da capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX, o Ceará conheceu diversos movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e também influências da Revolução Pernambucana de 1817, além de movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.
Ceará no Império
Imagem de um moinho de vento, emAracati, da Comissão Científica de Exploração, em 1859.
Em 1825, o Ceará tomou parte na Confederação do Equador, com o liberal Tristão Gonçalves aplicando um golpe e tornando-se chefe do governo. A Confederação foi frustrada pela forças imperiais e Tristão morreu durante os combates contra as forças legalistas doImpério. O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto Madeira, ou Insurreição do Crato, em 1832, liderada pelo "coronel" deJardim, Joaquim Pinto Madeira, que tinha como objetivo o retorno da monarquia absolutista e representava interesses regionais opostos aos da cidade do Crato, de inspiração marcantemente liberal.
Em meados de 1860, devido à Guerra de Secessão norte-americana, houve um surto de crescimento da produção do algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas deu grande impulso à modernização da infra-estrutura da Província, como exemplo a criação da Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamada Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da História Cearense, levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que seu próprio contingente populacional.
Jornal abolicionista "Libertador" de 25 de março de 1884.
Logo após, a produção da borracha explodiu na Amazônia, e muitos cearenses vítimas da seca migraram para esta região.
A gravidade dessa estiagem chamou a atenção do governo central e mesmo de estudiosos, estimulando a produção de textos científicos e propostas de melhoria da situação da população cearense vindas de várias partes do Brasil, cuja maior parte não foi posta em prática ou se relevou ineficaz. Por outro lado, houve um aceleramento nas obras do Açude do Cedro, em Quixadá, a primeira represa pública do Brasil, que foi concluído em 1906. A Grande Seca e as estiagens seguintes impulsionaram o surgimento da indústria da seca e geraram uma tradição migratória no estado. Entre 1869 e 1900, 300 mil cearenses abandonaram sua terra, 85% deles indo para a Amazônia.
Anos antes da proclamação da República, notabilizou-se a campanha abolicionista no Ceará, que logrou abolir a escravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea, fazendo do estado o primeiro do Brasil a conseguir tal feito. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias, inclusive a maçonaria, mas o maior destaque foi de Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da província. A primeira cidade brasileira a abolir a escravatura foi Acarape, atualRedenção, em 1º de janeiro de 1883. Devido a isso, o Ceará recebeu a alcunha de Terra da Luz, de início por José do Patrocínio. A escravidão, que jamais fora dominante no estado, estava praticamente extinta nos anos de 1880, de forma que não houve resistência à abolição mesmo por parte da elite agrícola.
Primeira República e Estado Novo
Soldados das forças juazeirenses.
No início da Primeira República, apesar das estiagens que assolaram o Ceará, Fortaleza continuou a desenvolver-se econômica e politicamente, o que não aconteceu tanto no resto do estado. Ocorreu, nas primeiras décadas do século XX, um afluxo de imigrantes, consistindo principalmente de portugueses e sírio-libaneses. Os descendentes destes, em particular, ganharam grande destaque no comércio, como mascates, e, futuramente, na política cearense.
Começou a ganhar destaque a atividade dos cangaceiros, que, agindo em grupos organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria estimulavam uma profusão de líderes messiânicos e formas de fanatismo religioso. O cearense Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, chegou a formar, na Bahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos interesses da elite fundiária, deflagrou a Guerra de Canudos. Isso, porém, não extinguiu a influência dos líderes religiosos.
Entre 1896 e 1912, a hegemonia política foi concentrada nas mãos do comendador Nogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosa oligarquia, cuja influência se estendia pela maior parte dos escalões do poder estadual. Em 1912, Accioly apontara como seu candidato Domingos Carneiro contra Franco Rabelo, representante da política do salvacionismo do presidente Hermes da Fonseca, gerando uma das mais conturbadas campanhas eleitorais do estado. Na Praça do Ferreira, a dura repressão policial a uma passeata de centenas de crianças em favor de Rabelo, que causou a morte de algumas delas e feriu outras, desencadeou uma revolta de três dias da população fortalezense, forçando o governador Accioly a renunciar seu mandato, evento conhecido como Sedição de Fortaleza. Franco Rabelo passou a governar o Ceará.
A Rede de Viação Cearense surgiu em 1909 e foi federalizada em 1915 para ajudar no combate à seca.
No fim do século XIX, o carismático Padre Cícero passou a atrair milhares de sertanejos para um pequeno distrito do Crato, que se tornaria Juazeiro do Norte em 1911, persuadidos pela sua fama de milagreiro, atribuída à suposta transformação em sangue da hóstia recebida do padre pela beata Maria de Araújo. Mesmo após ter sua ordenação cassada pelo Vaticano, em virtude de controvérsias sobre o milagre, Padre Cícero tornou-se cada vez mais conhecido e, apesar de seu caráter messiânico, foi hábil em evitar grandes conflitos com a elite local, tornando-se ele próprio um poderoso chefe político. Em 1914, irrompeu a Sedição de Juazeiro, opondo o governador interventor Franco Rabelo e o Padre Cícero, que havia conquistado os postos de prefeito de Juazeiro do Norte e vice-governador.Rabelo iniciou uma perseguição ao líder religioso. Com isso, liderados por Floro Bartolomeu, os sertanejos fiéis ao Padim Ciço reuniram-se para lutar contra as tropas estaduais, conseguindo derrotá-las em sua cidade e fazê-las recuar até Fortaleza, onde, vencendo, destituíram o governador. Estabeleceu-se um relativo equilíbrio entre as oligarquias cearenses, que durou até a Revolução de 30.
Sobreviventes do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, um dos eventos mais cruéis da história cearense.
Em 1915 o Ceará sofreu com uma gravíssima seca, levando a novo êxodo da população para aAmazônia, região que, devido à intermitente mas significativa emigração, recebeu grande influência de cearenses. A gravidade da seca inspirou a escritora Rachel de Queiroz em sua famosa obra O Quinze. O sertão sofreu mais uma estiagem em 1932, e, dessa vez, o governo estadual não pôde dispor mais da Amazônia como refúgio para os flagelados.
Diante disso, os campos de Concentração no Ceará que já foram usados na estiagem de 1915, foram recriados. Conhecidos comoCurrais do Governo, tinham como objetivo impedir que os retirantes que fugiam da seca e da fome chegassem às grandes cidades. A instabilidade política e social foi crescendo no Estado. Nos anos 1930, surgiu no Crato o movimento messiânico do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, liderado pelo beato José Lourenço. Igualitária e agrária, a comunidade do Caldeirão perseguia a auto-suficiência, passando a ser vista pelo governo e pelos fazendeiros poderosos da região como uma má influência. Em 1937, o Caldeirão foi invadido e alvo de bombardeio aéreo, resultando no massacre de centenas de pessoas.
Após a Revolução de 1930, o Ceará passou a ser governado por interventores do Governo Federal. Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário estadual: a Legião Cearense do Trabalho, com alegada influência fascista,e a Liga Eleitoral Católica, fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande apelo popular. Nos anos 1940, mais uma seca, em 1943, assolou o Ceará, e, com a Segunda Guerra Mundial e os Acordos de Washington, o governo de Getúlio Vargas incluiu o Ceará no seu projeto político. A instalação de uma base norte-americana em Fortaleza trouxe ideais democráticos e antifascistas que passaram a ser defendidos em várias manifestações. Sob uma forte propaganda governamental de migração e influência do SEMTA, cerca de 30 mil cearenses tornaram-se Soldados da Borracha, produzindo esse produto na Amazônia para abastecer os exércitos aliados.
República Nova
Vista da atual sede do Banco do Nordeste, instalado em Fortaleza em 1954.
A República Nova no Ceará teve início com a nomeação sucessiva de seis interventores até as eleições de 1947, seguindo-se a eleição de Faustino de Albuquerque pela UDN. Durante seu governo, nas eleições presidenciais de 1950, o candidato udenista Eduardo Gomesobteve a maior votação, e Getúlio Vargas ficou na 3ª colocação no estado. Para a direção do governo estadual, foi eleito Raul Barbosa. Durante seu governo, houve a instalação do Banco do Nordeste do Brasil, em 1952, em Fortaleza. No mesmo ano, o governo federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe, em cujo entorno foram instaladas várias usinas termoelétricas.
Durante a década de 1950 surgiram e se consolidaram vários dos maiores grupos econômicos do Ceará, como Deib Otoch, J. Macêdo,M. Dias Branco, Edson Queiroz e Jereissati. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Ainda nessa década, tem início uma nova onda migratória para vários estados e regiões. Entre as décadas de 1950 e 1960, a população cearense passou de 5,1% para 4,5% do total da população brasileira. Em 1958, foi eleito governador Parsifal Barroso, que teve a ajuda do governo federal para combater as mazelas decorrentes da seca daquele ano. Sua principal obra, o Açude Orós, foi inaugurado em 1961. Em Fortaleza, oGrupo Severiano Ribeiro inaugurou o Cine São Luis. Em 1962, foi criado o Banco do Estado do Ceará - BEC.
Em 1963, Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará, exercendo o mandato até 1966, mesmo com o início da ditadura militar, em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo - que buscou a modernização da estrutura do estado com a ampliação do porto do Mucuripe e a transmissão da energia de Paulo Afonso para a capital. Foram criados e instalados, também, o Distrito Industrial de Maracanaú, a Companhia de Desenvolvimento do Ceará - CODEC e a Companhia DOCAS do Ceará. Com o AI-2, Virgílio aderiu à ARENA e seu vice, Figueiredo Correia, ao MDB.
Governo militar
Vista do litoral de Fortaleza na década de 1980, com destaque para o Monumento ao Interceptor Oceânico.
Plácido Castelo foi eleito pela Assembleia Legislativa em 1966. Durante seu governo, houve perseguição política a deputados e várias manifestações, acarretando a prisão e tortura de estudantes e trabalhadores, assim como atentados a bomba em Fortaleza. Foi criado o Banco de Desenvolvimento do Ceará - BANDECE e pavimentada a rodovia CE-060, a estrada do algodão. Também tiveram início as obras do estádio Castelão.
Durante o governo de César Cals, de 1971 a 1975, sucedeu-se o auge da repressão militar. Vários cearenses de esquerda estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia. Cals procurou governar tecnocraticamente, formando sua própria facção política e rompendo com Virgílio Távora. No mandato de seu sucessor, Adauto Bezerra, de 1975 a 1978, não aconteceram grandes mudanças. Adauto volta-se politicamente para o interior com a criação de uma secretaria de assuntos municipais e renuncia seu mandato para se eleger deputado federal. O vice-governador, Waldemar Alcântara, toma posse e termina o mandato.
Virgilio Távora retorna ao governo em 1979, sendo o último eleito indiretamente, e resgata seu primeiro governo com a criação do PLAMEG II. Estabelece o Fundo de Desenvolvimento Industrial para complementar o sistema de incentivos regionais à indústria, impulsionando uma industrialização muito concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza. Criou-se o PROMOVALE, um grande projeto de irrigação, e sua esposa, Luiza Távora, programou projetos sociais como a Central de Artesanato do Ceará. Seu governo foi marcado pela ausência, quase que total, de oposição na Assembleia, nomeações aproximadas de 16000 pessoas para cargos públicos e várias greves. Em 1983, Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular, rompendo com os coronéis anteriores para criar seu próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe ataques do regime militar, com a suspensão de verbas federais.
Nova República
Tasso Jereissati foi governador por três vezes e liderou o chamado "Governo das Mudanças" no Ceará.
A Nova República coincide no Ceará com a eleição de Maria Luiza Fontenele para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1985. Foi a primeira prefeita de uma capital eleita pelo Partido dos Trabalhadores e a primeira mulher a ser eleita para esse cargo após o regime militar do país. A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento de redemocratização impulsionaram as transformações no poder político, com a decadência da hegemonia tradicional do coronelismo.
Gonzaga Mota deixou o governo com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas públicas.Rompido com os antigos aliados, Mota, junto com partidos de esquerda e o PMDB, apóia a candidatura oposicionista liderada pelo jovem empresário Tasso Jereissati, que conseguiu se eleger com a promessa de modernizar a administração pública e as finanças, combater o clientelismo dos governos anteriores, moralizar a administração pública e desenvolver a economia estadual. A nova gestão se autodenominou como Governo das Mudanças. Nas duas décadas seguintes, o projeto avançou com a eleição de Ciro Gomes, seguida de um segundo mandato de Tasso Jereissati. Com a instituição da reeleição no país, Tasso ainda governou o Estado pela terceira vez, tornando-se o primeiro político brasileiro a conseguir tal feito em mais de 100 anos de história republicana. Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passaram a deter a hegemonia política no Estado, e rapidamente perderam a aliança com partidos mais à esquerda. Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidatou e foi eleito em 1990 para o cargo de governador, apoiado por Tasso.
Os Governos das Mudanças priorizaram o aumento das receitas, visando a investimentos públicos e privados em infra-estrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permaneceu à margem. Politicamente, houve uma relativa diminuição de poder dos coronéis, com ampliação do poder do grande empresariado. O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pelo propósito de diminuir as despesas através de reformas administrativas e financeiras, bem como de demissões e achatamento salarial no funcionalismo público - garantiu superávits entre 1988 e 1994, mas, com a consolidação do Plano Real, volta-se a uma predominância de déficits.
Tasso foi eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços governamentais em grandes obras, como o Porto do Pecém, o novo Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Açude Castanhão, o Centro Cultural Dragão do Mar e o Canal da Integração. O terceiro Governo das Mudanças, de 1994 a 1997, caracterizou-se pelaprivatização de algumas empresas estatais e extinção de órgãos, enxugando a máquina, reformando a previdência estadual e dando maior racionalidade aos gastos públicos. Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso, continuou, em linhas gerais, o modelo político anterior, mas não conseguiu se reeleger em 2006, quando rompeu com o PSDB, posteriormente mudando para o Partido da República. Cid Gomes, do PSB, ex-prefeito de Sobral e aliado histórico de Tasso, venceu a disputa, com o apoio do Partido dos Trabalhadores, que, em Fortaleza, já havia vencido com Luizianne Lins, eleita em 2004 mesmo sem apoio real do partido, o qual, devido às alianças partidárias nacionais, apoiou o candidato Inácio Arruda, do PCdoB. Em 2008, Luizianne Lins foi reeleita.
O Estado se beneficiou também da guerra fiscal, que então se iniciava, o que, somada à mão-de-obra barata, atraiu várias indústrias, as quais se concentraram em algumas poucas cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, foi superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970. As ações do governo, aliadas aos esforços do empresariado local e os incentivos de instituições de grande importância na história econômica recente do Ceará, como o BNB e aSudene, foram determinantes para tal desempenho.
O forró eletrônico se popularizou na década de 1990, e o Ceará começou a despontar, seguindo a tendência do litoral nordestino, como grande polo do turismo brasileiro. Ao longo dessa década, com ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado também realizou grandes avanços na redução de índices como a mortalidade infantil. A migração em direção a Fortaleza seguiu forte. A segurança pública tornou-se muito mais problemática entre 1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil habitantes.
Apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico estável, a chamada Era Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Ceará, em especial a concentração de renda, que piorou entre 1991 e 2000, a má distribuição fundiária e a enorme disparidade regional, sobretudo entre a capital e o interior. Em 1999, segundo o Banco Mundial, metade dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza. No início do século XXI, consolidou-se a tendência de queda na tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001 a 2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à melhoria das condições de vida e à maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixação do povo pobre em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.
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